Viver privado de liberdade e implicações na produção de cuidado percebido por indivíduos no cárcere: estudo fenomenológico

Autores

Palavras-chave:

Prisioneiros, Direito à Saúde, Integralidade em Saúde, Direitos dos Prisioneiros

Resumo

Objetivo: Compreender os significados de viver privado de liberdade. Métodos: Pesquisa qualitativa, fenomenológica, realizada em um presídio no interior de Minas Gerais, com 18 pessoas privadas de liberdade. Realizou-se uma entrevista fenomenológica orientada por roteiro semiestruturado; posteriormente, procedeu-se à análise por meio da fenomenologia existencial de Viktor Frankl. Resultados: Emergiram duas categorias.  Na primeira, os entrevistados evidenciam sentidos negativos de viver privado de liberdade, como um sentimento de perda, de apatia e de angústia por viver no cárcere. Na segunda, teve-se a explicitação de sentidos positivos ao encontrarem, no cárcere, condições de vida melhores que aquelas vivenciadas fora, no que tange ao acesso à alimentação e à interrupção, ainda que compulsória, do uso de álcool e de drogas, contribuindo para a melhora da saúde. Conclusão: O cárcere, por envolver sentidos negativos e positivos, se caracteriza como um locus complexo, sendo imprencindíveis abordagens sensíveis, integrando busca de sentido, de cuidado e de reabilitação.

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Biografia do Autor

João Vitor Andrade, Universidade Federal de Alfenas

Enfermeiro. Mestrando em Enfermagem. 

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Publicado

2024-02-10

Como Citar

Caçador, B. S., Silva, L. V. C. ., Batista, G. do C., Garcia, M. A. ., Resende, M. A. S. de, Nogueira, A. de P. ., … Andrade, J. V. (2024). Viver privado de liberdade e implicações na produção de cuidado percebido por indivíduos no cárcere: estudo fenomenológico. Revista Pesquisa Qualitativa, 12(29), 78–94. Recuperado de https://editora.sepq.org.br/rpq/article/view/615